sexta-feira, 31 de outubro de 2025

Lorenzo e as Sementes da Transformação

 Lorenzo era um menino obediente, dedicado e estudioso. Todos os anos, saía de férias uma semana antes da data prevista no calendário, pois suas notas na escola eram excelentes. Como recompensa, passava alguns dias na casa dos avós, que moravam em uma pequena cidade do interior do Paraná.

Os dias ao lado dos avós eram repletos de ternura e aprendizado. A casa tinha um encanto especial. Sua avó, dona Luzia, fazia lindos bordados e, todas as tardes, preparava uma mesa delicadamente arrumada para o tradicional chá. A mesa transbordava de delícias: bolachas pintadas, bolo de reis e outras guloseimas irresistíveis. O chá, com um toque de cravo e canela, exalava um aroma que parecia vir de um mundo encantado.

Seu avô, Jonadab, era uma pessoa singular. Apaixonado por leitura, mantinha uma biblioteca em casa e adorava contar histórias. Todas as noites, sentado em sua cadeira favorita — que até levava seu nome gravado —, ele mergulhava Lorenzo em narrativas fascinantes.

Certa noite, Lorenzo perguntou:

— Vô, de onde vêm essas histórias? O senhor inventa tudo?

Jonadab sorriu, pensativo.

— Algumas, sim. Outras são segredos guardados, esperando o momento certo para serem revelados.

Lorenzo franziu a testa, intrigado, mas o avô apenas piscou para ele e mudou de assunto.

As manhãs na casa dos avós eram agitadas. Depois do café, Lorenzo ajudava a avó nos afazeres da casa. Ela lhe ensinava receitas que preparariam para o almoço. Um dia, fricassê; no outro, madalena; moranga com carne seca, feijão melhorado — como ela chamava o feijão com linguiça calabresa e outras carnes saborosas —, farofa com muito coentro... Cada prato era uma nova descoberta.

À tarde, o tempo era do avô. Depois da soneca pós-almoço, Jonadab sempre tinha uma engenhoca para mostrar. Eles já haviam confeccionado juntos uma coleção de jogos de tabuleiro ao longo das férias passadas: Mancala, Jogo da Onça, Jogo Real de Ur e muitos outros.

Mas naquela tarde, algo diferente aconteceu.

O avô acordou da soneca e chamou Lorenzo com um brilho misterioso no olhar.

— Venha comigo. Tenho algo especial para lhe mostrar.

Lorenzo o seguiu até a biblioteca. Jonadab abriu uma gaveta e retirou uma porção de sementes, colocando-as sobre a mesa.

Os olhos de Lorenzo brilharam de curiosidade.

— Sementes, vô? Para plantar?

— Sim... — Jonadab sorriu. — Mas não são sementes comuns.

Eram pequenos pacotinhos transparentes, cheios de sementes coloridas e brilhosas. Em cada pacote, uma etiqueta com palavras escritas à mão. Lorenzo pegou um deles e leu em voz alta:

— “Semente da transformação.”

Ele olhou para o avô, intrigado.

— O que acontece quando plantamos?

Jonadab sorriu de canto.

— Isso, meu neto, só podemos descobrir de um jeito...

Lorenzo sentiu o coração acelerar. Agora só tinha uma coisa em mente: plantar.

— Calma, Lorenzo! — disse o avô. — Você precisará ter muito cuidado com essas sementes, pois não pode desperdiçá-las.

Lorenzo saiu pensativo da biblioteca, segurando um dos pacotinhos.

“Sementes da transformação”, repetia em sua mente. “Será que posso transformar o mundo? Transformar as pessoas?”

A ideia parecia grandiosa, mas algo dentro dele o fez hesitar. “E se isso fosse errado? E se eu estivesse interferindo no livre-arbítrio de cada um?”

Ele parou no meio do caminho e pensou em voz alta:

— Não posso impor uma transformação... mas posso sugerir.

Um sorriso nasceu em seu rosto. Sim, ele poderia criar cenários fascinantes, que fariam as pessoas se transformarem por si mesmas, apenas observando o mundo ao seu redor.

Respirou fundo, sentindo a brisa suave da tarde.

— E o agricultor das sementes transformadoras... saiu a transformar! — disse, rindo. — Opa, quero dizer... saiu a plantar!


Próximo à casa dos avós, havia uma família que vivia em discussão. Ouvia-se de longe quando estavam em conflito. Trocavam xingamentos uns com os outros: pai com filho, filho com mãe, irmão com irmão. Parecia que não se amavam. Todos os dias havia um conflito novo.

Lorenzo pensou: o que uma semente poderia fazer ali, naquele ambiente? Ou ainda... talvez precisasse de muitas sementes ali. E dedicou-se àquela primeira plantação.

A família tinha um filho da idade de Lorenzo — então aquela seria a porta de entrada.

Lorenzo bateu palmas.

— Olá! Sou o Lorenzo, neto do senhor Jonadab e da dona Luzia. Vim passar as férias na casa dos meus avós. Posso brincar com seu filho, senhora?

A mulher que o atendera à porta viu um sorriso no rosto de Lorenzo e percebeu que ali existia bondade.

— Claro, pode sim. Vou chamá-lo. Robertinho! Venha aqui! O vizinho veio brincar com você!

Lorenzo cumprimentou o novo amiguinho, e os dois saíram correndo pelo quintal.

Havia alguns pneus velhos jogados por lá. Eles pegaram um e começaram a rodar, fazendo de conta que era o carro deles. Lorenzo estava ganhando a confiança do novo amigo.

Brincaram um pouco e então começou a execução do plano.

— Você já plantou alguma coisa na horta ou no canteiro? Já cultivou alguma planta? — perguntou Lorenzo.

O menino respondeu depressa, sem pensar:

— Nunca!

— Vamos fazer umas floreiras em sua casa? Eu gosto de flores e plantas.

Então os dois correram até a casa dos avós de Lorenzo, pegaram ferramentas e começaram o trabalho.

A mãe de Robertinho achou aquilo o máximo. As crianças estavam brincando em harmonia — era lindo de se ver. E, mais do que depressa, a mãe se propôs a ajudar, pois viu que seria um trabalho grande.

— O dia passou tão rápido! — disse a mãe de Robertinho a Lorenzo. — Vamos nos lavar, que vou preparar alguma coisa para comermos.

Lorenzo não pôde ficar, pois já era tarde e precisava ajudar a avó no jantar.

— Amanhã eu volto — disse Lorenzo. — Trarei as sementes para plantarmos.

A mulher, com um sorriso que há muito não se via, despediu-se do novo vizinho e amigo do filho. Entrou em casa abraçada com Robertinho, cantando e conversando sobre o canteiro e o que fizeram naquela tarde encantadora.

O pai de Robertinho chegou, viu que existiam mudanças: alguma coisa havia revirado a terra da frente da casa. Mal sabia ele que a reviravolta seria ainda maior.

Robertinho, ao ver o pai, correu ansioso para contar-lhe sobre o que fizeram à tarde — sobre Lorenzo, o canteiro, o futuro jardim.

Enquanto isso, a mãe preparava o jantar. Os outros irmãos chegaram e viram que algo diferente estava acontecendo: o pai conversando com Robertinho, a mãe arrumando a mesa cantarolando algo. Ficaram assustados — a terra na frente da casa toda remexida, a mãe e o Robertinho cheirosos, de banho tomado, e uma alegria no ar que ninguém sabia explicar.

— Venham todos! — chamou a mãe. — Está pronto!

O cheiro estava delicioso, a mesa bem arrumadinha. Todos se sentaram.

— Mãe, o que é aquilo lá na frente da casa? — perguntou o filho mais velho.

— Estamos fazendo um jardim — respondeu Robertinho. — O Lorenzo vai trazer as sementes para plantarmos amanhã.

— Quem é o Lorenzo? — perguntou o filho do meio.

— O neto da nossa vizinha, dona Luzia.

— Mas, mãe, nós nunca conversamos com eles! Como o Lorenzo veio parar aqui?

— Ele veio chamar o Robertinho para brincar. Os dois são praticamente da mesma idade.

— Hummm... entendi — respondeu o mais velho. — É aquele menino que sempre vem passar as férias com os avós, não é?

— Sim, ele mesmo.

Todos jantaram. A mãe começou a recolher a louça, e Robertinho foi ajudá-la — o que causou espanto nos irmãos. O exemplo, porém, já começava a dar frutos. O irmão mais velho percebeu a mudança e também se levantou para ajudar.

— Precisamos dormir e descansar — disse a mãe. — Amanhã temos que terminar o nosso jardim.

— Isso mesmo! — completou Robertinho. — Amanhã o trabalho será o dia todo!

Naquela noite, depois de muito tempo, a casa descansou em silêncio de paz.

Na manhã seguinte, bem cedinho, o cheirinho de café despertou todos. Robertinho já estava no quintal esperando o amigo Lorenzo com as sementes.

— Vô, quais sementes devo plantar hoje no jardim dos nossos vizinhos? — perguntou Lorenzo.

O avô sorriu com ternura.

— Filho, hoje você vai plantar várias sementes. E, no momento em que estiver plantando, diga ao seu amiguinho sobre a importância de regar todos os dias, pois elas precisam nascer, crescer e florescer. O cuidado com as plantas é muito parecido com o cuidado que temos uns com os outros. O amor é um sentimento que precisa ser zelado, alimentado.

— Uma vez meu pai me disse que o amor é como um fogo: se você põe combustível nele, ele fica forte, ardente; se não se preocupa, ele apaga. E depois, para reacender, é muito difícil — às vezes até impossível.

— Então explique isso para o seu novo amiguinho. As plantas, assim como as pessoas, precisam ser bem cuidadas, observadas, servidas, atendidas, protegidas, amadas...

Lorenzo saiu dali saltando de alegria. O avô havia preparado o semeador para muito mais do que um único jardim.

Chegando à casa dos novos amigos, lá estavam mãe e filho preparados para o grande dia: plantar as sementes no mais novo jardim da rua. O jardim estava mudando a história daquela casa, daquela família, daquela rua.

— Oi, Lorenzo! — saudou Robertinho, sorridente. — Estamos prontos!

Lorenzo, com os olhos brilhantes e um sorriso de lado, respondeu:

— Oiiii! Essa noite quase nem dormi, e vocês?

Todos riram.

Hora de começar.

Lorenzo tirou os pacotinhos do bolso. As sementes eram coloridas, apaixonantes, hipnotizantes.

Cada pacote tinha um nome, e isso chamou a atenção da mãe de Robertinho.

— Lorenzo, que flor é essa? No pacotinho está escrito “Mais sorrisos”.

Lorenzo respondeu, lembrando-se das palavras do avô:

— Essa planta, quando florescer, vai encantar as pessoas de tal maneira que todos que passarem por esta rua não conseguirão fazer cara feia.

As risadas ecoaram longe.

Robertinho, curioso, pegou outro pacote.

— Nesse aqui está escrito “Amizade”. O que é isso, Lô?

Lorenzo vivia um momento único. Sentia-se o professor da jardinagem do amor.

— Amizade é algo que precisamos cultivar em nossas vidas, Ricardinho. Um bom amigo é mais que um irmão. Ter amigos permite que nossas vidas sejam mais completas, nos faz reconhecer o quanto precisamos uns dos outros. Amizade é algo que deve florescer sempre.

Lorenzo também queria plantar e escolheu suas sementes.

— Vou plantar essas aqui!

— Deixa eu ver, Lorenzo? — pediu a mãe de Robertinho. — Uau! Está escrito “Sementes da família”. Nunca tinha visto isso antes. Já estou curiosa para ver as flores que vão nascer. Onde seu avô conseguiu isso, menino?

— As “sementes da família”, meu avô disse que são plantadas o ano todo, a vida toda. Essas sementes são a grande esperança de que estamos cumprindo o maior projeto de Deus, que é a família. Mas não devemos apenas plantar — e sim ensinar as pessoas a cuidar, para que floresçam. Assim como um pai que tem filhos, e os filhos têm filhos, que são os netos, e assim por diante.

— Essas sementes são tão poderosas que, uma vez plantadas, dão flores cujas pétalas caem na terra e permitem nascer novas flores. Não é legal? Meu avô até falou que essas flores são como uma grande bênção que se derrama na vida de uma pessoa. Elas ultrapassam gerações e atingem os filhos dos nossos filhos...

Aquele dia ficaria marcado na história daquelas pessoas.

— Lorenzo, já é meio-dia! Meu Deus, o papai e seus irmãos já vão chegar! — disse a mãe de Robertinho. — Me envolvi tanto que nem lembrei de preparar o almoço!

Para surpresa de todos, tudo já havia sido preparado. A vó Luzia e o vô Jonadab estavam com tudo pronto. Fizeram um banquete para a família do amiguinho de Lorenzo.

Quando o pai de Robertinho chegou, foi a maior surpresa. Todos já estavam esperando para, juntos, irem à casa ao lado almoçar.

Uma mesa comprida estava posta, com pratos, copos, guardanapos de pano, talheres — tudo muito bem organizado pelo vô Jonadab, que adorava arrumar a mesa nos mínimos detalhes. A vó Luzia fizera tudo com o maior carinho — até farofa com coentro tinha!

Todos estavam maravilhados com o que a amizade podia gerar. A mãe de Robertinho sorria sem parar; ela não vivia uma harmonia assim há muito tempo. O pai não tinha palavras. Vivia ali há tanto tempo e jamais havia sequer cumprimentado o senhor Jonadab. Amizades que poderiam ter tornado a vida muito mais significativa, bela e verdadeira.

— O almoço está uma delícia, dona Luzia — disse Robertinho.

— Você ainda não sabe o que vem por aí — respondeu ela, sorrindo. — Fiz bolo de reis, curau e, como sei que o Jonadab gosta de pudim, fiz um só pra ele. Mas vocês devem comer um pouquinho de cada!

— Meu Deus, quanta coisa boa, dona Luzia! — falou o filho mais velho, ainda de boca cheia.

— Sr. Jonadab — interrompeu a mãe de Robertinho —, onde o senhor arrumou aquelas sementes tão diferentes?

Jonadab sorriu e respondeu:

— Então, meus vizinhos... A vida nos permite opções. Escolhemos todos os dias se iremos ser felizes ou tristes, se iremos sorrir ou chorar. Não é fácil, mas temos a oportunidade de construir nosso mundo sempre, todas as manhãs.

— Durante muito tempo, comecei a cultivar flores e percebi que elas passam por um processo muito parecido como o da vida. Temos que preparar a terra, tirar os matinhos, regar, proteger do sol, do frio, dos invasores. Assim é a família.

— As flores, para mim, são como a família. Já perceberam que sempre que florescem, vêm em cachos? Dificilmente estão sozinhas em uma planta. Quando eu guardava uma semente para o próximo cultivo, por não saber o nome de todas, fui colocando aqueles nomes que vocês viram. Sempre acreditei que um jardim atrai pessoas, alegra, tira suspiros e sorrisos apaixonantes. É assim que vejo a família.

— Parabéns, senhor Jonadab. Parabéns, dona Luzia. Vocês são um exemplo de família — disse a mãe de Robertinho.

Robertinho e Lorenzo se abraçaram enquanto a vó Luzia servia mais pudim.

— Estou curioso para ver as flores que vão nascer no nosso jardim, Robertinho. Me manda foto, pois semana que vem já volto pra minha casa — disse Lorenzo.

— Deixa comigo, Lorenzo — respondeu a mãe de Robertinho.

O pai de Robertinho também quis participar:

— Estou pensando em até pintar a casa, Lorenzo, pra combinar com as flores! — brincou.

— Eu ajudo! — disse um dos filhos.

— Eu também! — completou o outro.

A família havia sido envolvida nesse novo projeto. As sementes estavam plantadas. O semeador havia feito seu papel. Agora era hora de cuidar — para que todos pudessem viver um grande florescer.

terça-feira, 28 de outubro de 2025

O Perdão

O Perdão 

(baseado em Efésios 4:32 — “Sede bondosos e compassivos uns para com os outros, perdoando-vos como Deus vos perdoou em Cristo.”)

Era uma manhã ensolarada, e Lia brincava feliz no quintal. 
As flores balançavam com o vento, e o cheiro doce das margaridas enchia o ar.

Mas, de repente, Lia ouviu uma voz zangada:

— Você pegou meu brinquedo sem pedir! — gritou sua amiga Sofia. 

Lia ficou vermelha de raiva.
— Não era seu, era meu! — respondeu, cruzando os braços.
As duas se viraram e foram embora, magoadas. 

O dia passou devagar. Lia sentia um peso no peito, mas não queria admitir que estava triste.
Foi então que ouviu um piado fraquinho vindo do jardim.

— Pi... pi... 

Atrás de uma moita, Lia encontrou um passarinho caído, com a asa machucada.
— Oh, pobrezinho! Eu vou te ajudar. — disse ela, pegando-o com cuidado.

Com o coração cheio de compaixão, Lia limpou a asinha, fez um curativo com um pedacinho de pano e o colocou numa caixinha com algodão.
Durante dias, ela cuidou do passarinho com amor. 

Mas um dia, enquanto trocava a água, o passarinho bicou o dedo dela.
— Ai! Isso doeu! — gritou Lia, assustada.
Por um instante, sentiu vontade de deixá-lo sozinho...
Mas o olhou de novo e pensou:
— Ele não quis me machucar. Está com medo.

Então, Lia sorriu e disse baixinho:
— Eu te perdoo, pequenino. Todos erramos às vezes.

No domingo seguinte, Lia foi à igreja com sua família. O pastor contou a história de Jesus, que perdoou até quem o machucou.
O coração de Lia bateu mais forte. Ela entendeu. 

Assim que chegou em casa, correu até a casa de Sofia.
— Sofia, me desculpa por ter brigado com você.
Sofia sorriu e respondeu:
— Eu também quero te pedir perdão.

As duas se abraçaram e foram brincar no jardim. 
O passarinho, agora curado, voou sobre elas e cantou alto, como se dissesse:
— O perdão faz o coração voar mais alto! 

Perdoar é cuidar com amor, mesmo quando dói.
Foi assim que Lia aprendeu o que Jesus quis dizer. 

quarta-feira, 15 de outubro de 2025

A vara e o mundo (O pai, a mãe, o professor) Todo dia é dia do professor.

A vara e o mundo (O pai, a mãe, o professor) 

Antigamente, havia uma vara atrás da porta. Não era enfeite, nem ameaça de mentira. Era símbolo de limite — simples, visível, compreendido.
Quando a criança aprontava alguma peraltice, sabia o que a esperava. Ia até o canto, pegava a vara com as próprias mãos e entregava à mãe. Não corria. Chorava, é verdade, mas entendia.
Era a dor curta que ensinava a lição longa.

O pai não gritava, não precisava. Bastava um olhar. Autoridade não era violência — era presença. Era o saber que o “não” significava “não” e o “agora” significava “agora”.
E, curiosamente, havia respeito. E amor. Amor daqueles que não temem, mas reconhecem a importância do limite.

Mas os tempos mudaram.
A vara foi escondida, depois esquecida, e por fim condenada.
Os pais deixaram de corrigir, não por medo de machucar, mas por preguiça de ensinar.
Trocaram a disciplina pela desculpa, o exemplo pelo discurso.
E assim, aos poucos, perderam a autoridade — não porque deixaram de bater, mas porque deixaram de educar.

As malcriações, antes contidas na sala de casa, migraram para as salas de aula.
Lá, professores viraram reféns de olhares desafiadores e celulares em punho.
A escola, que antes moldava caráter, agora tenta apenas sobreviver ao recreio.

E o tempo continuou.
Aquelas crianças cresceram.
Saíram das escolas e foram para as ruas, onde os limites já não existiam.
Hoje, vemos vídeos de pessoas sendo abordadas por policiais e… correndo.
Fugindo da lei, da ordem, da responsabilidade — talvez até da vara que nunca conheceram.

O mundo parece cheio de adultos que nunca foram corrigidos.
De meninos que envelheceram sem aprender a ouvir “não”.
De meninas que confundem liberdade com ausência de regras.

E assim seguimos: uma sociedade que repele a vara, mas abraça o caos.
Porque, no fundo, a falta que faz não é da dor — é da lição.

Dia do professor é todo dia. 


sexta-feira, 3 de outubro de 2025

O ‘gay’ e o gaiato

 O ‘gay’ e o gaiato

Aproximadamente 68,72% dos brasileiros com mais de 30 anos canta(va) errado o ‘Melô do marinheiro’, dos Paralamas do Sucesso. Não é “entrei de caiaque no navio”, é “entrei de gaiato num navio”. De gaiato!

‘Entrar de gaiato no navio’ significa ‘dar-se mal por engano’. A expressão ficou famosa no sucesso da banda em 1986. É a velha história do cara que achou que se daria bem viajando pelo mundo ao embarcar escondido num navio, mas teve de trabalhar duro para pagar sua estadia.

A associação com o navio ficou tão forte que, em 1994, o filme de comédia ‘Cabin boy’, que teria seu título melhor traduzido como ‘Camaroteiro’, recebeu no Brasil o nome ‘Um gaiato no navio’. O filme conta a história de um mauricinho milionário que entra por engano num navio pesqueiro e é obrigado a trabalhar. Filme bacana!

Mas não foi num navio que a expressão nasceu. Sem a embarcação, ‘entrar de gaiato’ significa ‘se dar mal, ser enganado, pagar pelo erro de outro’. É que gaiato é o mesmo que ‘alegre, brincalhão, faceiro’. Então, ‘entrar de gaiato’ é o equivalente a outra expressão que conhecemos bem: ‘entrar de alegre’.

O sujeito que entra de alegre é o que participa dalguma coisa meio que sem querer. Vai de bobo, só pela diversão, sem ter ideia concreta de onde está se metendo. É por isso que as chances de se dar mal são grandes.

Como há a possibilidade de o gaiato conseguir adentrar sem se lascar, muita gente usa a expressão justamente com o sentido contrário, como sinônimo de esperteza. Entrar de gaiato numa festa é entrar de graça ou participar do rolê sem pagar ingresso. Tudo isso graças à astúcia do gaiato, que ganharia tudo na conversa.

O gaiato é um sujeito, travesso, que brinca e diverte a todos. É por isso que funciona bem como sinônimo de ‘alegre’. A palavra é derivada de ‘gaio’, que desde o século XIII significa ‘esperto, vivo, jovial’.

‘Gaio’ é um termo quase em desuso, mas tem um parente etimológico muito mais popular. ‘Gaio’ vem do francês ‘gai’ que significa ‘alegre, feliz’. É desse francês que surgiu o termo ‘gay’ em inglês. Bem, pelo menos etimologicamente, Didi (o personagem de Renato Aragão, nos Trapalhões) não estava tão errado ao se referir a um homossexual como “rapaz alegre”, nos anos 70, 80 e 90.

‘Gay’, termo inglês usado para se referir inicialmente aos homens homossexuais, tem de fato origem nos rapazes alegres. O vocábulo surgiu no século XII, mas só no começo do século XX é que passou a ser associado à homossexualidade. Até então, seu significado era outro.

Ao final do século XVII, ‘gay’ adquiriu o significado específico de “viciado em prazeres e dissipações”, já que essa alegria poderia vir dos prazeres carnais. ‘Gay’ era um adjetivo aplicado a homem, mulher ou coisa, implicando “desinibição das restrições morais”. Um ‘homem gay’ era o mesmo que ‘mulherengo’ (quem diria?!), uma mulher ‘gay’ era um eufemismo para ‘meretriz’, uma ‘casa gay’ era um ‘bordel’.

Significando ‘livre de preocupações sexuais’, por volta da década de 50, a palavra ‘gay’ saiu da esfera heterossexual para também designar os homens que se relacionavam sexualmente com outros homens. O vestuário colaborou para o novo significado do termo, já que ‘gay apparel’ (vestuário alegre) eram as roupas estravagantes e afeminadas. No final dos anos 60, ‘gay’ já tinha o significado principal de ‘homossexual’.

A partir dali e por muito tempo, ‘gay’ foi um termo usado pejorativamente. Era um insulto. A utilização da palavra pelos próprios homossexuais, entretanto, fez com que a conotação negativa fosse amenizada com o tempo. Os homossexuais se apropriaram da palavra e lhe retiraram a carga insultuosa, a ponto de ‘gay’ participar oficialmente da sigla LGBT e do movimento do Orgulho ‘Gay’.

‘Gay’ mudou de significado ao longo dos séculos, assim como ‘entrar de gaiato’ trocou de sentido. Essa é a beleza da Etimologia, que nos mostra sempre o poder cultural da ressignificação das palavras.

⁂ Gostou? Então leia mais um tantão de histórias bacanas nos livros ‘100 etimologias para curtir e compartilhar’ e ‘50 pseudoetimologias para deixar de compartilhar’. Estão disponíveis no linque do primeiro comentário. 😉

Referências: ‘Conversando é que a gente se entende’, de Nélson Cunha Mello (2011) e ‘Online Etymology Dictionary’ (set. 2025).


quinta-feira, 2 de outubro de 2025

Comunidade Mapuche de Temucuicui

 Estivemos recentemente no Chile e presenciamos uma manifestação que merece um registro. As fotos foram tiradas por celular em movimentos um pouco rápidos e isso prejudicou a qualidade. Os integrantes dos ancestrais mapuches estavam reinvindicando em frente a um prédio público e foram convidados a se retirar nesse momento. Fotos tiradas dia 29/09/2025. 


"Lof Temucuicui" refere-se à Comunidade Mapuche de Temucuicui, um grupo indígena localizado no Chile que está em um processo contínuo de recuperação territorial, enfrentando conflitos com o Estado e empresários para a retomada de terras historicamente mapuches. A comunidade é conhecida por sua resistência e pela luta por seus direitos e identidade cultural, o que resultou em frequentes confrontos com a polícia e acusações de perseguição estatal. 
Principais características e eventos:
  • Luta territorial:O Lof Temucuicui busca recuperar terras que considera serem de seu patrimônio ancestral, um processo que se intensificou nas últimas décadas. 
  • Conflito e repressão:A comunidade tem estado em permanente confronto com o Estado chileno, que busca legitimar a ocupação de seus territórios, caracterizando o conflito como uma luta por "recuperação territorial", segundo o Museu Chileno de Arte Precolombino. 
  • Perseguição estatal:Membros do Lof Temucuicui e outros mapuches que defendem seus direitos são, por vezes, perseguidos e processados judicialmente. 
  • Víctor Queipul:O lonco (líder) da comunidade tem sido uma figura proeminente, exigindo a libertação de presos políticos mapuches e defendendo o direito do povo mapuche de viver de acordo com sua cultura e tradições, mesmo sob risco de repressão. 
  • Resistência cultural:A luta do Lof Temucuicui representa uma importante manifestação de resistência cultural e política do povo mapuche contra o despojo territorial e a imposição do Estado. 
  • Reconhecimento e documentário:A luta e a realidade do Lof Temucuicui foram retratadas no documentário "Lof Temucuicui, Territorio bajo Recuperación", que busca dar visibilidade à causa da comunidade. 



"Temucuicui" significa "ponte do temu" no idioma mapudungun, que é o idioma do povo Mapuche. O termo é formado por "temu", que é uma árvore endêmica do Chile conhecida como palo colorado ou pau-rosa, e "kuykuy", que significa "ponte". O nome se refere a uma localidade no sul do Chile, na região da Araucanía, formada por um conjunto de comunidades Mapuche


Os mapuches são um povo indígena originário da região centro-sul do Chile e também do sudoeste da Argentina (principalmente na Patagônia). Antes da chegada dos espanhóis no século XVI, eles já habitavam aquela área, vivendo da agricultura, da caça e da coleta.

Alguns pontos importantes sobre eles:

  • Nome: “Mapuche” significa povo da terra (“mapu” = terra; “che” = gente).

  • Resistência: Os mapuches ficaram conhecidos por sua forte resistência contra a colonização espanhola no Chile. Durante a chamada Guerra de Arauco (séculos XVI a XIX), eles lutaram contra o domínio espanhol e, mais tarde, contra o governo chileno.

  • Cultura: Têm uma rica tradição espiritual, ligada à natureza, e uma organização social baseada em comunidades chamadas lof.

  • Atualidade: Hoje, os mapuches ainda lutam pelo reconhecimento de suas terras, cultura e direitos. No Chile, representam a maior etnia indígena do país. 


Informações: IA. Fotos: Emerson Fulgencio de Lima 


Um poeta escreveu: 

"Entre doidos e doídos, prefiro não acentuar". 

Às vezes, não acentuar parece mesmo a solução.

Eu, por exemplo, prefiro a carne ao carnê. 

Assim como, obviamente, prefiro o coco ao cocô. 

No entanto, nem sempre a ausência do acento é favorável... 

Pense no cágado, por exemplo, o ser vivo mais afetado quando alguém pensa que o acento é mera decoração. 

E há outros casos, claro!

Eu não me medico, eu vou ao médico. 

Quem baba não é a babá. 

Você precisa ir à secretaria para falar com a secretária. 

Será que a romã é de Roma? 

Seus pais vêm do mesmo país? 

A diferença na palavra é um acento; assento não tem acento.

Assento é embaixo, acento é em cima.

Embaixo é junto e em cima separado.

Seria maio o mês mais apropriado para colocar um maiô? 

Quem sabe mais entre a sábia e o sabiá? 

O que tem a pele do Pelé?

O que há em comum entre o camelo e o camelô? 

O que será que a fábrica fabrica? 

E tudo que se musica vira música?

Será melhor lidar com as adversidades da conjunção ”mas” ou com as más pessoas?

Será que tudo que eu valido se torna válido?

E entre o amem e o amém, que tal os dois?

Na sexta comprei uma cesta logo após a sesta.

É a primeira vez que tu não o vês.

Vão tachar de ladrão se taxar muito alto a taxa da tacha.

Asso um cervo na panela de aço que será servido pelo servo.

Vão cassar o direito de casar de dois pais no meu país.

Por tanto nevoeiro, portanto, a cerração impediu a serração. 

Para começar o concerto tiveram que fazer um conserto.

Ao empossar, permitiu-se à esposa empoçar o palanque de lágrimas.

Uma mulher vivida é sempre mais vívida, profetiza a profetisa.

Calça, você bota; bota, você calça.

Oxítona é proparoxítona.

Na dúvida, com um pouquinho de contexto, garanto que o público entenda aquilo que publico. 

E paro por aqui, pois esta lista já está longa.

Realmente, português não é para amador!


Portal Poético.

via Web

🎨 Caravaggio

quarta-feira, 10 de setembro de 2025

"Em tudo caridade"

Na mesa do café, dois amigos discutiam política como se o mundo dependesse daquilo. Vozes altas, gestos largos, cada um defendendo seu ponto como se fosse o único possível. No meio do fervor, uma senhora ao lado, com olhar tranquilo, interrompeu apenas para dizer:

— No essencial, unidade; no não essencial, liberdade; em tudo, caridade.

O silêncio caiu como quem lembra que há coisas maiores do que ganhar uma discussão. Um deles sorriu sem jeito, o outro respirou fundo. Não era sobre convencer, mas sobre respeitar.

A frase, atribuída a Santo Agostinho, ecoa como um conselho de vida. Unidade no que nos sustenta, liberdade no que nos diferencia, e caridade — sempre. Caridade que não é esmola apressada, mas paciência no trânsito, bondade na fila do mercado, silêncio diante de uma ofensa.

Porque, no fim, fé e esperança se alimentam de um futuro que não vemos. Mas a caridade é agora, é gesto concreto, é escolha diária. E talvez seja isso que nos mantém humanos: a capacidade de amar mesmo quando discordamos, de estender a mão mesmo quando seria mais fácil virar as costas.

Em tudo, caridade. Eis um caminho simples, mas que muda o mundo — começando pelo coração de quem o pratica.

XXXXXXXXXXXXX

"Em tudo caridade" é parte da famosa frase atribuída a Santo Agostinho, "No essencial, unidade; no não essencial, liberdade; em tudo, caridade", que enfatiza a importância do amor e da prática da caridade como princípios universais, mesmo em meio a divergências. A caridade, no sentido bíblico, é definida como uma virtude que ama verdadeiramente e se manifesta em ações como paciência, bondade e desinteresse pessoal, e é considerada a maior das virtudes, superior à fé e à esperança. 

Significado da frase

  • No essencial, unidade:Nas verdades fundamentais e pilares da fé, deve haver concordância e união entre as pessoas. 
  • No não essencial, liberdade:
  • Nas questões secundárias, nas opiniões ou nos pontos de vista que não são centrais para a fé, deve haver liberdade para divergir, sem que isso gere conflito ou divisão. 
  • Em tudo, caridade:
  • Em todos os momentos, em todas as circunstâncias e em todas as interações com as outras pessoas, a atitude deve ser de caridade, amor e benevolência.
  • A caridade segundo a Bíblia

  • O apóstolo Paulo, em 1 Coríntios 13, descreve a caridade como a prática da bondade, paciência e altruísmo.
  • Ela é mais do que apenas um ato de dar; é uma atitude do coração que se importa genuinamente com o próximo, buscando o bem-estar e a verdade, e não a injustiça.
  • A caridade é descrita como a virtude que "tudo sofre, tudo crê, tudo espera, tudo suporta", sendo um amor que transcende outras virtudes e que, por isso, é insubstituível. 

segunda-feira, 8 de setembro de 2025

O PEREGRINO - JOHN BUNYAN

 O Peregrino, escrito por John Bunyan no século XVII, é considerado uma das maiores obras da literatura cristã. Trata-se de uma alegoria da caminhada espiritual do ser humano rumo à salvação. O protagonista, chamado “Cristão”, parte de sua cidade natal, a Cidade da Destruição, em busca da Cidade Celestial. Durante a jornada, ele enfrenta inúmeros desafios, tentações e perigos, que simbolizam as lutas e provações da vida cristã.

Ao longo do caminho, Cristão encontra personagens que representam virtudes e vícios, como Esperançoso, Fiel, Hipocrisia e Desespero. Cada encontro traz ensinamentos sobre a fé, a perseverança e a necessidade de confiar em Deus diante das dificuldades. O livro também apresenta locais simbólicos, como o Pântano do Desânimo, o Vale da Sombra da Morte e a Feira das Vaidades, todos representando obstáculos espirituais e morais.

A obra é atemporal justamente porque fala de um tema universal: a busca por sentido e redenção. Mais do que uma narrativa religiosa, O Peregrino é uma reflexão sobre a condição humana, as escolhas que fazemos e o preço da fé. Até hoje, é lido tanto como inspiração espiritual quanto como uma joia literária, influenciando autores e pregadores em diversas culturas ao longo dos séculos.


O Peregrino, de John Bunyan, é uma das obras mais lidas da literatura cristã. Acompanhe a jornada de “Cristão” em busca da Cidade Celestial, enfrentando tentações, desafios e provações que simbolizam a vida espiritual. Um clássico atemporal sobre fé, perseverança e esperança. Segue link com o PDF da obra completa:  

https://cavcomunidade.wordpress.com/wp-content/uploads/2017/10/o-peregrino-john-bunyan.pdf

sexta-feira, 5 de setembro de 2025

O MITO DA INTELIGÊNCIA ÚNICA

O mito da inteligência única

Desde cedo ouvimos rótulos que moldam a forma como acreditamos em nosso próprio potencial. Alguns são chamados de “bons de matemática”, outros de “criativos”, alguns de “inteligentes” e outros de “medianos”. Essa classificação silenciosa, repetida em casa, na escola ou no trabalho, vai se transformando numa verdade íntima: a ideia de que só temos valor em determinadas áreas e que fora delas somos quase incapazes. Mas a verdade é outra: a inteligência não é seletiva, é integral.

O problema não está em sermos limitados, mas em acreditarmos que nossa mente só funciona em uma direção. A inteligência é como uma rede de caminhos que se conectam em múltiplos sentidos. Não somos apenas lógicos, emocionais ou criativos – somos tudo isso ao mesmo tempo, ainda que em diferentes medidas. E é justamente essa visão que chamo de Inteligência 360°: a capacidade de perceber que o ser humano pode desenvolver-se em várias dimensões, sem se aprisionar a um único rótulo.

Quando um aluno tira notas baixas em português, por exemplo, logo pode ser tachado de “ruim de escrita”. Mas esse mesmo aluno pode ser excelente em esportes, possuir sensibilidade musical ou uma incrível capacidade de resolver problemas práticos. O sistema de avaliação tradicional costuma enxergar apenas um ângulo, como se a inteligência fosse um feixe de luz estreito, quando na verdade ela se abre como um arco-íris de possibilidades.

Negar essa amplitude é como olhar para um cubo apenas de frente e acreditar que ele é um quadrado. A perspectiva engana. E a vida faz exatamente isso conosco: nos acostuma a acreditar que só existe uma maneira de sermos inteligentes, quando na realidade cada situação revela uma face diferente da nossa mente.

A ciência já nos mostra que existem múltiplas inteligências: lógico-matemática, linguística, corporal, espacial, musical, interpessoal, intrapessoal e naturalista. Mas ainda que essa classificação seja útil, ela não deve ser vista como gavetas isoladas. Nossa vida real mistura todas essas habilidades de formas variadas. Ao cozinhar, por exemplo, ativamos inteligência corporal, espacial, lógica e até criativa. Ao conversar com alguém, acionamos inteligência emocional, linguística e interpessoal. O cotidiano é um grande laboratório da mente, muito mais rico do que qualquer teste de QI.

Pensar em Inteligência 360° é resgatar essa visão ampla. Não somos uma peça de máquina especializada, mas um organismo vivo que aprende, sente, cria, organiza e transforma. Se acreditarmos apenas em um talento, corremos o risco de atrofiar outras capacidades. Mas se entendermos que podemos expandir em várias direções, o potencial se torna ilimitado.

Este livro nasce do desejo de desmontar o mito da inteligência única e de convidar você a olhar para si mesmo com novos olhos. Não importa se você cresceu ouvindo que “não nasceu para estudar” ou que “só serve para trabalhos práticos”. Essas frases são grilhões invisíveis que reduzem nossa identidade. O que proponho aqui é libertar a mente dessas correntes e mostrar que a inteligência está em tudo: no modo como sentimos, na maneira como lidamos com as pessoas, na criatividade que surge quando menos esperamos e até no silêncio de uma boa reflexão.

A jornada que começamos agora é a de reconhecer a nossa mente como um território vasto, com montanhas, rios, desertos e jardins férteis. Não há um único mapa que defina quem você é. Há caminhos que ainda não foram explorados, portas que ainda não foram abertas e talentos que talvez você nem imagine possuir. A boa notícia é que nunca é tarde para ampliar a visão e assumir uma postura de aprendizado integral.

Porque, no fim das contas, sua inteligência não é seletiva. Ela é 360°.

Quer o ebook completo? Click no link abaixo.

https://drive.google.com/file/d/194c8Ls2nV8N1JSuJW8EOLMwhY2kFCTve/view?usp=sharing

sexta-feira, 22 de agosto de 2025

Ezer: A Ajuda que Vem de Deus

Ezer: A Ajuda que Vem de Deus

Na língua hebraica existe uma palavra especial: ʿēzer (עֵזֶר). Ela carrega em si significados profundos como ajuda, auxílio, socorro. É uma daquelas palavras que parecem simples, mas que, quando mergulhamos em seu uso bíblico, revelam algo precioso sobre o coração de Deus e o propósito d’Ele para nós.

Em Gênesis 2:18, lemos: “Não é bom que o homem esteja só; far-lhe-ei uma ajudadora (ʿēzer) que lhe seja idônea.” Muitas vezes essa expressão foi mal interpretada, como se a palavra “ajudadora” indicasse inferioridade. Mas quando voltamos ao hebraico, entendemos que ʿēzer não fala de subordinação, e sim de parceria, apoio e força. A mulher é apresentada como alguém que completa, fortalece e caminha lado a lado.

Curiosamente, a mesma palavra é usada em vários Salmos para se referir ao próprio Deus:

  • “A nossa alma espera no Senhor; ele é o nosso auxílio (ʿēzer) e o nosso escudo.” (Sl 33:20)

  • “Elevo os olhos para os montes; de onde me virá o socorro (ʿēzer)? O meu socorro vem do Senhor, que fez os céus e a terra.” (Sl 121:1-2)

Percebeu? A mesma palavra que descreve a mulher em Gênesis é usada para o Senhor, o Todo-Poderoso, em sua relação de cuidado e proteção pelo povo. Isso mostra que ʿēzer é sinônimo de força presente na hora da necessidade, de alguém que sustenta, defende e dá esperança.

O profeta Oséias também nos lembra disso: “A tua perdição, ó Israel, vem de ti, e o teu verdadeiro auxílio (ʿēzer) está em mim.” (Os 13:9). Mais uma vez, vemos que o auxílio real, a ajuda que sustenta a vida, vem do próprio Deus.

Assim, quando olhamos para essa palavra, entendemos algo essencial: ʿēzer não é sinal de fraqueza, mas de nobreza e força. Seja aplicado à mulher, como parceira que fortalece, ou a Deus, como nosso socorro, o termo nos lembra que todos precisamos de apoio, e que oferecer ajuda é um ato divino.

Hoje, você pode se lembrar: Deus é o seu ʿēzer, seu socorro em todos os momentos. E Ele também nos convida a sermos ʿēzer uns para os outros — pessoas que fortalecem, apoiam e estendem a mão. 

22/08/2025 - Emerson Fulgencio.

"Não é bom que o homem esteja só; farei para ele al­guém que o auxilie e lhe corresponda".

 A palavra “ʿēzer” (עֵזֶר) em hebraico bíblico significa, de forma geral:

  • Ajuda

  • Auxílio

  • Socorro

Na Bíblia, o termo aparece várias vezes:

  • Em Gênesis 2:18, quando Deus cria a mulher como “ʿēzer kenegdô” (עֵזֶר כְּנֶגְדּוֹ), geralmente traduzido como “uma ajudadora idônea” ou “auxílio que lhe corresponda”.

  • Em vários Salmos, a palavra é usada para se referir a Deus como o “socorro” ou “ajuda” do povo (ex.: Salmo 121:1-2).

Ou seja, não tem um sentido de “subordinação”, mas sim de força de apoio, parceria, alguém que fortalece e socorre.

No Pentateuco

  • Gênesis 2:18 – “Não é bom que o homem esteja só; far-lhe-ei uma ajudadora (ʿēzer) que lhe seja idônea.”

  • Gênesis 2:20 – “... mas para o homem não se achava ajudadora (ʿēzer) que lhe fosse idônea.”


Nos Salmos

  • Salmo 33:20 – “A nossa alma espera no Senhor; ele é o nosso auxílio (ʿēzer) e o nosso escudo.”

  • Salmo 70:5 – “Eu sou pobre e necessitado; apressa-te, ó Deus! Tu és o meu amparo (ʿēzer) e o meu libertador...”

  • Salmo 115:9-11 – “... confiai no Senhor; ele é o auxílio (ʿēzer) e o escudo deles.”

  • Salmo 121:1-2 – “Elevo os olhos para os montes; de onde me virá o socorro (ʿēzer)? O meu socorro (ʿēzer) vem do Senhor, que fez os céus e a terra.”

  • Salmo 124:8 – “O nosso socorro (ʿēzer) está em o nome do Senhor, que fez os céus e a terra.”


Nos Profetas

  • Oseias 13:9 – “A tua perdição, ó Israel, vem de ti, e o teu verdadeiro auxílio (ʿēzer) está em mim.”


Em resumo:

  • Quando se refere à mulher em Gênesis, mostra o papel de parceria e complementaridade.

  • Quando se refere a Deus nos Salmos, mostra força, proteção e socorro.

Ou seja, ʿēzer tem um sentido nobre e forte, nunca de inferioridade.

sexta-feira, 1 de agosto de 2025

1.º de agosto: dia do carrulim, bebida típica do Paraguai

 "O Gole Sagrado do Dia 1º"

Todo ano, no primeiro dia de agosto, seu Modesto acordava com a mesma missão: tomar um gole de Carrulim antes do sol nascer, com a cara ainda amassada e o estômago roncando de susto. Era tradição — e, segundo ele, mais eficaz que vacina contra raiva, mau-olhado e sogra fofoqueira.

— Tem que tomar em jejum! — avisava ele, apontando o dedo como se fosse um padre dando sermão. — Se comer antes, já era. O cachorro louco te pega!

Dona Estefânia, sua esposa, já nem discutia mais. Toda vez que o via preparar a tal bebida — que parecia uma mistura de ervas, álcool e coragem líquida — ela apenas rezava para que o banheiro estivesse livre o dia inteiro.

Modesto abria o armário com toda a pompa, retirava a garrafa de Carrulim como se fosse um troféu olímpico e enchia o copinho de vidro com o líquido escuro que cheirava a botica, igreja e mato molhado ao mesmo tempo.

— Vai um gole, compadre? — ofereceu ao vizinho Paulinho, que havia ido só pedir açúcar emprestado.

— Deus me livre! — respondeu Paulinho, recuando dois passos e tropeçando no cachorro da casa, que saiu latindo como um condenado.

— Tá vendo?! Já tem bicho bravo rondando! — gritou Modesto, virando o gole com os olhos fechados, como quem mergulha de cabeça numa piscina de álcool.

A cada engolida, Modesto tossia, se contorcia e fazia careta de quem tinha visto o capeta, mas no final, soltava a famosa frase:

— Pronto! Agora tô imune até ao ex da minha filha!

Na vila, diziam que quem não tomava Carrulim no dia 1º tinha grandes chances de ficar doente, esquecer o CPF ou até encontrar o cachorro louco em forma de boleto atrasado. E Modesto, é claro, se considerava o mais protegido de todos.

No fundo, ninguém sabia exatamente o que tinha dentro da Carrulim. Uns diziam que era segredo indígena, outros que era receita da avó do diabo. Mas uma coisa era certa: depois de um gole, o dia ficava mais leve, e o cachorro louco... bem, esse nem passava na calçada. 

(autor desconhecido - dizem que vive em Foz do Iguaçu-PR  kkkk)

quinta-feira, 10 de julho de 2025

O barulho do Filosofia te irrita? ou não?

 Do livro "o mundo de sofia" vamos resumir: um coelho branco é tirado de dentro da cartola. E porque se trata de um coelho muito grande, este truque leva bilhões de anos pra acontecer. Todas as crianças nascem bem na ponta dos finos pelos do coelho. Por isso elas conseguem se encantar com a impossibilidade do número de mágica a que assistem. Mas conforme vão envelhecendo, elas vão se arrastando cada vez mais parao interior da pelagem do coelho. E ficam por lá. La embaixo é tão confortável que elas não ousam mais subir até a ponta dos finos pelos lá em cima. Só os filósofos têm ousadia para se lançarem nesta jornada rumo aos limites da linguagem e da existência. Alguns deles não chegam a conclui-la, mas outros se agarram com força aos pelos do coelho e berram para as pessoas que estão la embaixo, no conforto da pelagem, enchendo a barriga de comida e bebida: -senhoras e senhoras -gritam eles -estamos flutuando no espaço! Mas nenhuma das pessoas la de baixo se interessa pela gritaria dos filósofos. -deus do céu! Que caras mais barulhentos! -elas dizem. E continuam a conversar: sera que você poderia me passar a manteiga? Qual a colação das ações hoje? Qual o preço do tomate? Você ouviu dizer que a Lady Di esta grávida de novo? (Jostein Gaarder)

domingo, 6 de julho de 2025

Fazei Tudo o que Ele Vos Disser - JESUS LIBERTA

IGREJA QUADRANGULAR 06/07/2025

Sermão: Fazei Tudo o que Ele Vos Disser

Texto base: João 2:1-11


Introdução

Todos nós já preparamos uma festa ou um evento. O ser humano tem dentro de si essa inclinação natural para planejar, organizar e realizar projetos.

Dias atrás, celebramos o aniversário da minha esposa. Escolhemos o cardápio, fizemos a lista de convidados e organizamos tudo com carinho. O aniversário dela é no dia 20 de junho, e neste ano caiu numa sexta-feira recesso do feriado de Corpus Christi, o que nos deu um final de semana prolongado para organizar tudo com calma.

Gostamos muito de receber pessoas em nossa casa. Ela, mais detalhista do que eu, posiciona as cadeiras, analisa o ambiente... Falta só colocar o nome nos lugares (risos). Eu, no estilo mais prático, calculo: tantas pessoas, tantos pães, tantos quilos de carne, e por aí vai. Admito que, às vezes, exagero (risos).

Na vida espiritual, não é diferente. Também precisamos nos preparar para aquilo que Deus quer fazer em nós e através de nós. Foi pensando nisso que lembrei das bodas de Caná da Galileia, onde Jesus realizou o primeiro milagre de Seu ministério.


1. O Primeiro Milagre e a Graça da Nova Aliança

O casamento estava cuidadosamente planejado, como todo casamento deve ser. É um dia único, e nada pode dar errado. Contudo, faltou algo essencial: faltou vinho! (João 2:3)

Na simbologia bíblica, o vinho representa alegria, abundância e a graça da nova aliança trazida por Jesus. A água, usada nos rituais de purificação judaicos, representa a antiga aliança da lei. Jesus transforma a água em vinho, simbolizando a transição da Lei para a Graça.

Neste episódio, um detalhe chama atenção: Maria, ao perceber a falta do vinho, diz aos serventes:

“Fazei tudo o que Ele vos disser.” (João 2:5)

Aqui está o convite para todos nós: estamos dispostos a fazer tudo o que Jesus mandar?


2. Renúncia: O Caminho do Discipulado

Quando Jesus começou a chamar seus discípulos, cada um deles precisou renunciar a algo.
Renunciar significa abrir mão de um direito, posição, proposta ou crença. No hebraico, a palavra tem o sentido de afastar-se de algo.

Dois exemplos nos ensinam muito:

2.1 Nicodemos — O que não Renunciou

Nicodemos, um líder religioso importante (João 3), reconheceu que Jesus viera de Deus, pois ninguém poderia realizar milagres como Ele fazia. Nicodemos buscou Jesus à noite e ouviu a famosa frase:

“É necessário nascer de novo” (João 3:3).

Nicodemos sentiu vontade no coração, mas não fez a renúncia necessária. Continuou preso ao seu status e posição religiosa.

2.2 Mateus — O que Abandonou Tudo

Mateus, cobrador de impostos (Mateus 9:9), deixou imediatamente seu trabalho quando Jesus o chamou. A Bíblia não relata que ele pediu explicações. Ele simplesmente largou tudo e seguiu Jesus. Seu coração estava livre dos conceitos que aprisionam.

Como pode, para duas pessoas, a mesma oportunidade ter respostas tão diferentes?

Nicodemos permaneceu como alguém que reconhecia Jesus, mas não nasceu de novo. Mateus tornou-se autor de um evangelho inteiro e registrou o Sermão da Montanha (Mateus 5, 6 e 7).


3. O Sermão da Montanha: A Lei do Amor e da Graça

O Sermão da Montanha é um marco no ensino de Jesus. Assim como Moisés recebeu a Lei no Monte Sinai (Êxodo 19-20), Jesus revela a plenitude da Lei no Monte das Bem-Aventuranças, às margens do Mar da Galileia.

Repare como a trajetória bíblica se conecta:

  • Água em vinho: a Lei sendo transformada em Graça (João 2).

  • "Fazei tudo que Ele vos disser": Moisés exige o cumprimento da Lei; Jesus nos convida a sermos semelhantes a Ele.

  • Nascer de novo: Jesus não quer apenas obedientes à Lei, mas pessoas transformadas pela Graça.


4. A Liberdade em Cristo

Durante muito tempo, criaram-se regras e costumes que tornaram o caminho até Deus mais pesado do que deveria ser: tem que usar terno, as mulheres de um lado, os homens do outro, não pode isso, não pode aquilo...

Mas tudo isso não passa de religiosidade. Se não fosse pela Graça, ninguém conseguiria chegar ao Pai.

"Porque pela graça sois salvos, mediante a fé; e isto não vem de vós, é dom de Deus." (Efésios 2:8)

O Que é Graça?

Graça é favor imerecido.
É um presente que Deus nos dá, não porque merecemos, mas porque Ele é generoso.

A graça de Deus:

  • Revela Seu amor incondicional;

  • Nos dá uma nova chance;

  • Nos liberta do peso da culpa;

  • Muda nossa perspectiva em relação aos outros.

Como posso exigir punição contra alguém, se Deus — que é perfeito — me perdoou de tantos pecados?


5. Estamos Dispostos a Obedecer?

Jesus disse:

“Se queres ser perfeito, vai, vende tudo o que tens, dá-o aos pobres e terás um tesouro no céu; depois vem e segue-me.” (Mateus 19:21)

Será que estamos dispostos?


6. Jesus Liberta em Todas as Áreas da Vida

Jesus continua libertando hoje:

  • Ele faz andar o paralítico — dá capacidade de caminhar corretamente na vida.

  • Ele faz ver o cego — clareia nossa visão espiritual.

  • Ele faz ouvir o surdo — abre nossos ouvidos para o discernimento.

  • Ele cura o leproso — restaura nossa dignidade.

  • Ele liberta o endemoniado — devolve nossa consciência e inteligência emocional.


Conclusão

Irmãos, Jesus não veio complicar a vida espiritual. Ele veio simplificar com amor e graça. Ele não quer que você apenas siga regras. Ele quer seu coração transformado.

O convite de hoje é simples e profundo:
Fazei tudo o que Ele vos disser.