quinta-feira, 7 de julho de 2022

XURDIR - A minha hora de ler...

XURDIR - A minha hora de ler...
Xurdir. Sim, esse é o nome do meu mais novo amigo. Uziel o nome do filho dele. Quando recebi o telefonema do Pastor Rodrigo Faraco, e nele conversamos sobre um menino angolano que precisava estudar aqui no Brasil e que faltava-lhe apenas o terceiro ano do ensino médio, e que o pastor havia indicado o Dom como escola para concluir os estudos, jamais imaginaria o que poderia acontecer. Marcamos o encontro para a matrícula e em uma tarde pai e filho vieram a escola. Isso, Xurdir e Uziel. 

Primeiro um pouco de dificuldade para encontrarem nosso endereço, estavam há uma semana em Foz, há apenas 7 dias no Brasil, acreditei que quem tivera já um oceano inteiro atravessado, então sair da Almirante Barroso, cruzar a Av. Brasil, entrar na Av. JK e através da avenida chegar até a rua Equador não seria difícil. Mas foi. Porém a tecnologia venceu. De uma maneira divertida, conversamos via Whatsapp e conduzi-os até a frente da escola. Foi engraçado e ali já tivemos motivos para gargalhadas. Entramos, muitas histórias, conversa de alto nível cultural, política, histórica e, por fim, a matrícula. Uziel estava matriculado em uma escola brasileira. Um menino angolano, que chegara há 7 dias ao Brasil e que agora era um novo aluno na EJA a Distância DOM. 

Algo permite aqui que paremos para uma reflexão, que valor essa família dá a Educação? Uziel veio ao
Brasil para estudar, terminar seu ensino médio e cursar uma Universidade. Penso que para ele não será tão simples quanto aquele menino ou menina que estuda na escola do seu próprio bairro, ou que tem transporte escolar, pai ou mãe que vem trazer a porta da escola. Uziel veio da Angola. Ficará aqui sem família. Mas também penso, que privilégio o meu, o da nossa escola de receber um aluno com esse propósito. Mas a história não para por aqui. 

No primeiro dia de aula, permiti-lhe que se apresentasse e falasse um pouco de sua cultura, de seu país. Foi um momento real de Geografia, História e Linguagens. Mas foi no segundo dia que veio a surpresa.Tudo já era sinceramente único para mim, já tivemos muitos alunos árabes, paraguaios, argentinos, tivemos um aluno no passado oriundo da República Dominica, mas todos já estavam no Brasil há alguns anos, nenhum fizera a matrícula na mesma semana que chegou ao Brasil. Então o inesperado aconteceu. Uziel, no intervalo do segundo dia de aula, tirou de sua mochila um livro. E com simplicidade e ao mesmo tempo alegria radiante me disse: "meu pai escreveu um livro". 

O livro nas mãos de Uziel parecera para mim naquele momento uma luz brilhante. Na mesma hora peguei-o das mãos de Uziel e comecei a folear. Fantástico Uziel. Muito "top" o material ( como costumo dizer quando gosto de alguma coisa). Teu pai trouxe na bagagem? Ele respondeu que não, que fora impresso em Londrina, que já estava nos planos há alguns anos, mas a pandemia havia atrasado. Enfim, Xurdir buscara o livro e agora precisava comercializar. No mesmo momento comentei a Uziel que não poderíamos deixar aquele material passar despercebido em nossa cidade. Pode parecer algo exagerado, mas eu vi no material algo muito além de um livro. Percebi já no primeiro momento que tinha em mãos algo que resultara de um sonho, de uma vitória sobre a resistência que muitos nem calculavam. 

Angola é um dos países que tem como língua oficial o Português, somos frutos de uma mesma colonização, abuso de poder, roubo, imposição cultural. Países que tiveram que vencer suas diferenças, "engolir" línguas ou dialetos maternos e obrigados a pensar a partir de uma visão de cultura dominante impositora. Isso tudo gerou em ambos países um caos chamado analfabetismo e o livro do Xurdir era uma  bandeira para um novo tempo da Angola. Uziel percebeu, acredito, um pouco disso tudo no meu olhar e na forma com que manuseei o livro. Ao final daquela manhã, Xurdir estava na escola e queria conversar comigo. Uziel mais que depressa já havia contactado seu pai e ele estava ali. Então percebi que o livro não passaria despercebido se dependesse de mim. 

Um contato com um grande amigo, apaixonado pela literatura, Noraldino do Nascimento, e então veio a ideia de conversarmos com outro amigo gigante, Juca Rodrigues. Juca é atualmente o presidente da Fundação Cultural de Foz do Iguaçu e, quando se tem amigos, com um rápido contato, saímos daquela manhã com saldo positivo: uma reunião na Fundação no próximo dia sete. 7/07.  Xurdir, que data Deus nos permitiu? 

Chegado o dia aqui estamos e o saldo agora além de positivo terá resultado multiplicativo. Xurdir realizará o lançamento do seu trabalho "A minha hora de ler" ( esse é o título do livro ) no dia 21/07/2022 na própria Fundação Cultura e já recebeu convite para participar como autor estrangeiro, mesmo que precise ser de forma remota, na Feira do Livro que acontecerá neste ano do dia 14/09 a 23/09. Acredito que isso é só o começo. Muito escreverei aqui no blog sobre o meu mais novo amigo Xurdir e o que ainda colheremos de frutos desse seu trabalho. 

Estamos todos convidados para o lançamento.
para sua reserva, pois teremos apenas 100 lugares. 
Quanto ao livro você poderá adquirir no local. 
Serão apenas R$ 20,00. Será um sucesso. 

2 comentários:

Anônimo disse...

Fantástico

Anônimo disse...

Parabéns pela acolhida ao nosso amigo lusófono.