sexta-feira, 20 de junho de 2014

A LIÇÃO DO LEPO-LEPO

Você deve estar assombrado, "prof. Emerson jamais usaria isso para sua aula", mas na verdade o autor de tal texto me surpreendeu com a verdadeira aula de ONOMATOPEIAS apresentada a partir da repetição 'lepo-lepo'. Vale a leitura!

Brincando, brincando, a repetição pode indicar múltiplas realidades

A lavancado por dancinha comemorativa de Neymar e Daniel Alves, a música Lepo-lepo, da banda baiana Psirico, foi o sucesso do carnaval de 2014 que ainda estronda os ouvidos brasileiros neste meado de ano. No sentido oposto do funk ostentação, que pretende a afirmação por carros, motos, bebidas e outros sonhos de consumo, o protagonista da canção assume que "está na pior": péssima situação financeira, não tem moradia, seu carro foi tomado pelo banco e, precisamente por isso, pode certificar-se das reais intenções da amada: "E se ficar comigo é porque gosta do meu lepo-lepo": ostentação de outras qualidades...

No melhor estilo do humor nordestino, o da malícia subentendida, não se afirma claramente o que é "lepo", nem "lepo-lepo"... E o verbete da Wikipedia até tenta forçar uma margem "família" para a expressão:

"A mais aceita é que a expressão significa performance sexual, apesar de também ser possível interpretar como charme ou carinho".

Bunga-bunga
Naturalmente, para indicar charme não caberia a reduplicação, que imediatamente gerou piadas e paródias, substituindo "lepo-lepo" por "nheco-nheco", do colchão. É como se pretendêssemos interpretar os bunga-bunga de Silvio Berlusconi, como afeto ou carinho. Neste caso, a origem é mais clara: uma antiga piada (que teria sido contada a Berlusconi por Kadafi): um grupo de antropólogos e exploradores na África é aprisionado por uma tribo selvagem e o chefe pergunta se eles preferem a morte ou bunga-bunga (?).

Um primeiro membro da expedição pede bunga-bunga e é brutalmente violentado pelos machos da tribo e, em seguida, queimado vivo. Um segundo, pensando que os nativos tinham se equivocado e entendido "morte", pede também o bunga-bunga e tem o mesmo destino. Então o terceiro pede diretamente a morte e o chefe da tribo diz: "Pediu morte terá morte, mas antes bunga-bunga!".

"Lepo-lepo", como "bunga-bunga" (ou a "conga-conga" da Gretchen), evocam o caráter de descontrole, de pega-pega, de treme-treme, de rala-rala que a repetição em alguns casos indica:

"A manifestação estava pacífica, mas quando chegou na avenida começou o quebra-quebra";

"A reunião ia bem, mas quando chegou o pessoal do sindicato, aí virou oba-oba";

"O dia da mudança foi um lufa-lufa";
"A saída do estádio foi comportada até começar o empurra-empurra";
"Em época de visita do MEC, a secretaria da faculdade é aquele vuco-vuco";
"Tá rolando um zum-zum-zum, um diz-que-diz-que de que vai haver cortes nos salários".

Intensidade
A repetição muitas vezes denota intensidade: o falar demasiado é "blá-blá-blá", "nhem-nhem-nhem", "patati-patatá" ou "lero-lero"; filme de muito tiro é "bangue-bangue"; despedida para valer é "tchau-tchau"; e o cara cheio de si chega chegando e diz "tô que tô" (ou "vamo que vamo"), enfim, ele quer porque quer se impor.

Outras vezes a ênfase está na mera repetição: pisca-pisca, bilu-bilu, chupa-chupa, cri-cri. Que por vezes recolhe onomatopeias como "teco-teco", "reco-reco", "quero-quero", "xique-xique", etc. Ou na alternância, como em "troca-troca" ou "pingue-pongue".

O falar infantil tem tendência a repetir sílabas: nos apelidos carinhosos (Juju, Mimi, Dudu, Fafá, Zezé), no ambiente familiar (vovó, mamãe, titia), em suas atividades, como comer (papá), ou necessidades (pipi, cocô, naná). Já a repetição "assim assim" indica indeterminação: não posso dizer que estou bem (não sou nenhum bam-bambã) nem mal: estou assim assim. Como antigamente era frequente a saudação (de indeterminação): "Ô, Fulano, que bom te rever, vejo que você está cada vez mais cada vez...".

Antecedentes
Nos evangelhos, Jesus emprega a repetição como forma de carinhosa censura, como que chamando a atenção para algo que esperava do interlocutor e está um pouco decepcionado pela sua falta de sensibilidade. Assim, quando Marta se queixa de que sua irmã Maria não a ajuda no trabalho da casa e fica ouvindo o Mestre, Jesus a repreende:

"Marta, Marta, tu te ocupas de muitas coisas, mas só uma é necessária" (Lc 10, 41).

E ante Jerusalém, que não sabe corresponder a seu amor:

"Jerusalém, Jerusalém, quantas vezes eu quis reunir teus filhos... mas tu não quiseste" (Mt 23, 37).

E a Saulo, que antes de se converter perseguia os cristãos:

"Saulo, Saulo, por que me persegues?" (At 9, 4).

Caberiam muitos outros casos, mas detenho-me aqui, pois já são suficientes para mostrar que, brincando brincando, a repetiç
ão pode sutilmente indicar diversas realidades. 

 http://revistalingua.uol.com.br/textos/104/a-licao-do-lepo-lepo-312975-1.asp

sexta-feira, 13 de junho de 2014

ESTRANHOS SINAIS

As marcas tipográficas criadas desde a Idade Média para facilitar a interpretação das frases



 
http://revistalingua.uol.com.br/textos/98/estranhos-sinais-302541-1.asp

 

quarta-feira, 11 de junho de 2014

ALEFI COMEMORA 11 ANOS COM FESTA E LANÇAMENTO DE 6 LIVROS

Neste mês, a Academia de Letras de Foz do Iguaçu comemora 11 anos. Na noite de comemoração, 13 de junho,  haverá o lançamento de 6 livros, todos de escritores da cidade. 
Lançamento de livros
Raul Gonzales lançará o livro Frases e Pensamentos do Raul.
Mapê Carneiro é a autora do livro de poesias Raias da Alma.
Também na linha de poemas, Marisete Zanon lançará o livro ConfessionariuM.
Lhaisa Andria, presidente da Alefi, apresentará o Almakia II – Além dos Segredos, do gênero literatura fantástica.
Luiz Henrique lançará seu livro O Amor Remove Caninos e Outras Histórias.
Por fim, Nilton Bobato lançará o romance A sorte não sorriu para César Rondicatto.

quarta-feira, 4 de junho de 2014

MENTE SÃ, CORPO SÃO – OS LIVROS PODEM MUDAR O MUNDO, OU AINDA “UM ENFERMO EM UMA SALA DE ESPERA NA QUAL NÃO SE FALA DE DOENÇAS”

“Em 1938, a menina Liesel Meminger está viajando de trem com sua mãe e seu irmão mais novo, quando ele morre. Sua mãe enterra o menino em um cemitério à beira da linha do trem e Liesel pega um livro, “O Manual dos Coveiros”, que foi deixado sobre o túmulo de seu irmão e traz o livro com ela.

Liesel é entregue a um lar adotivo em uma pequena cidade e mais tarde ela descobre que sua mãe a deixou porque ela é comunista. Sua madrasta, Rosa Hubermann, é uma mulher rude, mas cuidadosa e seu padrasto, Hans Hubermann, é um homem simples e bondoso.

Liesel faz amizade com o menino que mora na casa ao lado, Rudy Steiner, e eles vão juntos para a escola. Quando Hans descobre que Liesel não sabe ler, ele a ensina usando o livro dela e Liesel se torna obcecada pela leitura.

Durante um discurso nazista, quando os moradores são forçados a queimar livros em uma fogueira, Liesel recupera um livro para ela e a esposa do prefeito, Ilsa Hermann, vê o que ela fez.

Um dia, Rosa pede a Liesel que entregue a roupa que ela lavou e passou na casa do prefeito e
Ilsa convida Liesel para vir para sua biblioteca e diz que ela pode visitá-la quando quiser ler”.

Talvez você conheça essa história. Não!? É a sinopse (www.maniacosporfilme.com)  apresentada por um site para o filme “A menina que roubava livros – Coragem além das palavras”, inspirado no livro “A menina que roubava livros” de Markus Zusak. O livro é fantástico; a produção cinematográfica ficou às alturas da obra.
Sabemos que não é singular essa atitude, apresentada no livro/filme, de queimar livros. Ser proibido de ler.  Não ter conhecimento das letras, parece que durante muito tempo isso foi uma estratégia de governantes para dominar o povo, a igreja que o diga, Hitler sabemos o que fez...
Mas os tempos são outros e está cada vez mais evidente que a universalização do saber tem trazido à luz da humanidade um cidadão mais crítico, e este por sua vez tem se preocupado em tornar a informação, a arte, a cultura ainda cada vez mais presente na sociedade. Prova disso é a atitude de Eliane e Margarete Savallisch proprietárias de um café aqui em Foz do Iguaçu.
O local fica encostadinho ao Colégio São José, na esquina da av. Brasil com a rua Antonio Raposo, em um dos locais privilegiados de Foz. Para quem é mais antigo por aqui, lembra-se do hospital ali pertinho. O café chama-se Sava e o interessante é que nele as proprietárias privilegiaram um espaço com um “cantinho da leitura” nome de batismo da mesinha – já com falta de espaço, pois as doações de livros de diferentes gêneros textuais e literários foram muitas – que fica a disposição dos clientes e amigos a fim de que possam desenvolver uma boa leitura.
Eliane e Margarete contam que a ideia nasceu do fato da região ainda ser muito movimentada devido às inúmeras clínicas e laboratórios que por ali existem e os pacientes para não ficarem esperando em salas desses ambientes, buscarem um lugar, às vezes ao sol, com uma conversa mais agradável, “sem aquele papo de doente” diz ela. Então o agradável e o cultural tomaram seu espaço, um cantinho com um jornal diário, livros diversos, gibis, revistas, um privilégio sem dúvida alguma às pessoas, muitas oriundas de outras cidades,  que  escolhem o local para tomar um café e um lanche deliciosos e esperar por suas consultas e/ou exames.

A iniciativa é louvável, digna de congratulações. É notório que lugares como esses são diferentes, que empresários como esses são diferentes e não há como não reconhecer que isso vai além de um diferencial competitivo, transcende uma iniciativa que prima pelo aspecto humana, cultural, de formação intelectual e cidadão. Conto os dias para que práticas como essa tomem nossa cidade.