domingo, 15 de dezembro de 2024

Trocando um "por quê? por um "para quê?

Vamos, Marilu! Me ajude, precisamos tirar essas "coisas" aqui do quintal. Não estou conseguindo sozinho.

Essa foi a última frase que ecoou em uma cena que não me causou medo, mas me fez lembrar, ao acordar às 4h15 da manhã, que o sonho tinha mais imagens enigmáticas.

Aquela imagem de uns animais estranhos, com formas variadas, uma espécie que nunca tinha visto em nenhum livro, documentário da National Geographic ou Globo Repórter, incomodou-me naquela noite.

Um sonho com um teor muito diferente do que sonhara durante esses meus 52 anos.

Mas o sonho não ficou só nisso. Nós tirávamos as "coisas" aos punhados. Não tínhamos medo de tocar, de pegar com as mãos, com os braços. Jogávamos para longe, livrando um espaço que seria necessário para algo surpreendente: peixes. Muitos peixes começaram a aparecer. Muitos peixes brotavam da terra, caíam do céu, surgiam do nada. Em vários momentos surpreendi-me com eles nos braços: eram enormes, eram pesados. Não sei ao certo quantos eram, mas proporcionalmente ao espaço — um gramado que me lembrava uma das casas em que já vivi — não havia mais lugar para tantos.

Eles tinham um olhar que não era aquele que vemos nas peixarias, aquele olhar que, apesar de ser sinônimo de peixe fresco, é vazio. Era um olhar de esperança, um olhar de socorro de alguns. Eles vinham aos meus braços, encostavam-se em minhas pernas.

Nesse momento, as "coisas" já não estavam mais lá.

Acordado, tento entender. Algumas passagens bíblicas já me vieram à lembrança: "Então Simão Pedro subiu a bordo e puxou a rede para a terra, cheia de peixes grandes, cento e cinquenta e três; e ao todo eram tantos, mas a rede não se rompeu." (João 21:11) ou talvez os cinco pães e os dois peixinhos... Mas não era uma multiplicação, tampouco uma pescaria. Eles vinham, apareciam, eram atraídos por algo que os tranquilizava. Estar em meus braços parecia algo bom, confortável, seguro.

Hoje é domingo, 15 de dezembro de 2024. No canal Israel com Aline, ainda na mesma semana do sonho, o episódio da manhã tinha como título: "Os peixes sumiram? O que está acontecendo com o Mar Morto?"

O Mar Morto baixa o volume de suas águas de 1 metro a 1 metro e meio por ano e recua, em média, 30 metros. Um fenômeno que coincide com as profecias bíblicas. O curioso é que algumas lagoas estão se formando nessa parte seca, chamadas de "bolaines do Mar Morto". Os bolaines são "buracos" formados pelas condições subterrâneas após a redução do volume de água daquela área. Essas lagoas são de água doce que brotam vidas do aquífero de Jerusalém, e nelas a vida está se concretizando segundo a professia de Ezequiel 47:12. Os peixes já estão surgindo, aparecendo...

Voltando ao meus sonho, minha expectativa é que esses peixes sejam um norte para o que Deus quer de mim. Hoje teremos a revelação da palavra profética para 2025 na igreja que frequento. Creio que teremos confirmação.

Na última ceia, já percebi que, quando pergunto por que Deus faz algo ou nos dá algo, na verdade o que precisamos saber é: "para quê?", e não "por quê?".

Ainda não sei exatamente o que Deus quer me mostrar com tudo isso. Mas sei que Ele está me chamando para algo maior, algo que talvez ainda não compreenda plenamente. Aqueles peixes no sonho não vieram por acaso — eram um sinal de vida, de abundância e de propósito.

Enquanto espero a revelação, fico com uma certeza: Deus não apenas nos dá sonhos, mas também a direção para realizá-los. É a pergunta certa — "Para quê?" — que nos aproxima do que Ele deseja.

Hoje, confio que Ele continuará revelando o próximo passo. Porque, assim como os peixes encontraram meus braços como um refúgio, eu quero estar pronto para ser instrumento de paz e esperança nas mãos do Senhor.

AS DIFERENÇAS NOS PREPARAM PARA VIVER O PROPÓSITO DE DEUS

AS DIFERENÇAS NOS PREPARAM PARA VIVER O PROPÓSITO DE DEUS

Benjamin é um menino muito inteligente. Seus pais congregam há muito tempo em uma igreja, e Benjamin quase nasceu dentro da igreja em um domingo de culto.

Uma manhã, enquanto eles se arrumavam para ir ao culto, Benjamin perguntou:

— Papai, você sabia que o símbolo que representa o autismo é formado por um quebra-cabeça com várias cores? E sabia que tem um novo símbolo que é formado pelas cores do arco-íris? Sabe o que me lembrei? Que quando Deus fez uma aliança com Noé, depois do dilúvio, Ele colocou um arco-íris no céu como sinal dessa aliança.

O pai sorriu e respondeu:

— Você está certo, filho. O arco-íris nos lembra da fidelidade de Deus e de como Ele cuida de todos nós, não importa como somos. Deus prometeu que nunca mais destruiria a terra com um dilúvio, e o arco-íris é o sinal dessa promessa.

Enquanto caminhavam para a igreja, Benjamin continuou pensando. Quando chegaram ao templo, ele ouviu o pastor dizer:

— Deus nos instrui a amar o próximo como a nós mesmos. Isso significa respeitar a singularidade de cada pessoa, pois cada um é único e especial aos olhos Dele.

Benjamin ergueu a mão e perguntou:

— Pastor, se Deus fez cada um à imagem e semelhança Dele, isso quer dizer que as diferenças também fazem parte do plano Dele?

O pastor sorriu e respondeu:

— Exatamente, Benjamin. Deus nos fez diferentes para que possamos aprender uns com os outros. Sua singularidade é um presente de Deus, assim como cada um de nós tem algo especial a oferecer.

Durante o culto, Benjamin se sentiu inspirado. Ele gostava de contar histórias e decidiu compartilhar algo. Com a autorização do pastor, ele subiu ao púlpito e disse:

— Todos nós somos como um quebra-cabeça. Cada peça é diferente, mas todas se encaixam quando trabalhamos juntos. Deus nos colocou aqui para amarmos uns aos outros e cuidarmos uns dos outros. Um dia, pode ser que nossa igreja receba uma família que tenha um filho autista. Sabem o que isso significa? Que precisamos estar prontos para acolher e amar, porque as diferenças tornam nossa família da fé mais bonita.

Os irmãos da igreja bateram palmas, e algumas crianças foram até Benjamin para agradecer por suas palavras. Uma delas disse:

— Eu não sabia que você era tão inteligente, Benjamin. Você sempre sabe muitas coisas legais!

Benjamin sorriu e respondeu:

— Todos nós temos algo especial. E o mais importante é lembrar que Deus nos ama como somos.

Aquele dia marcou a vida da pequena igreja. Benjamin não apenas aprendeu mais sobre o amor de Deus, mas também ensinou os outros a celebrarem as diferenças.

E assim, todos na igreja passaram a olhar para o quebra-cabeça e para o arco-íris como um lembrete do amor de Deus, que une cada peça com perfeição.

terça-feira, 10 de dezembro de 2024

DALTON TREVISAN - OBRIGADO.

 Agora foi a vez do Dalton Trevisan. 99 anos. Vivia recluso em sua residência. 

Lembro-me da época de faculdade, o curso de Letras da Unioeste. Tínhamos um professor de Literatura que via nos contos de Trevisan inúmeras possibilidades para elaborar aulas que provocassem discussões acaloradas. Ele adorava ver-nos brigando para defender ou acusar as personagens apresentadas na visceral literatura do autor. O Vampiro de Curitiba, como ficou conhecido após a publicação da obra de mesmo nome publicada em 1965, permitiu-nos aulas intrigantes e intrigueiras. Hoje os primeiros noticiários do dia informaram o óbito. Diziam que ele vivia recluso e nessa hora duvidei da notícia. Como podem afirmar que um autor de tal grandeza literária e de tantos escritos vivia preso, enclausurado, metido em cela, para quem não busca o significado das palavras com veemencia como eu, aceitaria essa palavra com naturalidade: "recluso". Dalton está muito livre, solto, a transitar por corredores universitários, por entre alunos de ensino fundamental e médio, de mão em mão, de tela em tela. O vampiro voa. 

Quero deixar aqui o primeiro conto lido em minha trajetória. 

Apelo

 Dalton Trevisan

 Amanhã faz um mês que a Senhora está longe de casa. Primeiros dias, para dizer a verdade, não senti falta, bom chegar tarde, esquecido na conversa de esquina. Não foi ausência por uma semana: o batom ainda no lenço, o prato na mesa por engano, a imagem de relance no espelho. Com os dias, Senhora, o leite primeira vez coalhou. A notícia de sua perda veio aos poucos: a pilha de jornais ali no chão, ninguém os guardou debaixo da escada. Toda a casa era um corredor deserto, até o canário ficou mudo. Não dar parte de fraco, ah, Senhora, fui beber com os amigos. Uma hora da noite eles se iam. Ficava só, sem o perdão de sua presença, última luz na varanda, a todas as aflições do dia. Sentia falta da pequena briga pelo sal no tomate — meu jeito de querer bem. Acaso é saudade, Senhora? Às suas violetas, na janela, não lhes poupei água e elas murcham. Não tenho botão na camisa. Calço a meia furada. Que fim levou o saca-rolha? Nenhum de nós sabe, sem a Senhora, conversar com os outros: bocas raivosas mastigando. Venha para casa, Senhora, por favor.