domingo, 3 de abril de 2022

Um adeus a LYGIA FAGUNDES TELLES

Em 1997 senti vontade de voltar à Universidade. Sempre tive um sentimento inexplicável quando pisava os pés no campus. As leituras, as pequisas, as discussões, aquela atmosfera acadêmica me fascinava. Foram 4 anos no curso de Letras, de 1991 a 1994. Há aproximados 3 anos não sabia mais o que era isso. Em 1995 a Unioeste inaugurava a sede própria em Foz do Iguaçu. Na época da licenciatura em Letras, usávamos as instalações de uma escola pública estadual que se localizava no bairro Vila C. Não havia estudado ainda naquele prédio novo, imaginava que ali sim sentiria cheiro de conhecimento. Então decidi que cursaria uma pós-graduação. Seriam alguns professores já conhecidos da época da graduação e teria oportunidade de um upgrade com alguns mestre ou até doutores que não estavam ali naquela época. E ainda, a proposta dessa pós em Letras tinha algo de formidável, pois ao meu ver seriam uma continuidade do curso de Letras, mas agora eu era Licenciado, já ministrava aulas em algumas escolas, ou seja, não era mais o acadêmico que estaria ali com aqueles professores universitários, mas sim um professor em meio a professores. Um espécie de compromisso de elevar o nível das discussões e experiências nas aulas. Então começou a pós graduação, e com ela um recalibrar dos sentidos e uma nova paixão, os contos. Com a leitura dos textos literários nasce uma relação agora mais íntima com ela, a dama da literatura brasileira, Lygia Fagundes Telles. Foram meses estudando a vida e a obra dessa escritora, que é considerada por acadêmicos, críticos e leitores como uma das mais importantes e notáveis escritoras brasileiras do século XX e da história da literatura brasileira. Lembro-me que dois contos foram trabalhados naquela ocasião "Natal na Barca" e "Dezembro no bairro", mas a oportunidade de conhecê-la, através de sua literatura projetou-me para um universo que ainda não havia visitado. Não tive oportunidade de sequer assistir a uma palestra ao vivo, fiquei devendo isso para mim, mas tenho certeza que não teria outra impressão sobre Lygia e não teria surpresas daquelas que temos quando conhecemos alguém e nos decepcionamos. Pelo que escreveu e pelo que acompanhei de sua trajetória, posso afirmar que "ela era ela mesma". Uma escritora autêntica e que lutou com palavras. Enfim, hoje a autora dá adeus, mas com certeza absoluta, se nós seres humanos não tivéssemos essa "mania" de anunciar que uma pessoa morreu, absolutamente ela seria uma dessas pessoas que passaria por "imortal". Já explico, afinal ela não é imortal? devem estar questionando. O que não saberíamos é quando ela partiu e às vezes alimentaríamos uma esperança de chegar em uma feira do livro, bienal ou qualquer outro encontro da mesma espécie, e depararmos com a escritora, ou poder simplesmente contemplá-la transitando suavemente nos corredores das letras. Deixo aqui uma foto da autora, para o blog MITÁ ARANDU registrar esse momento, dessa quase centenária e ainda junto ao arquivo uma foto da capa do trabalho, nossa prova, Lygia, de que em algum momento de nossas vidas "estivemos bem próximos". 

Luta com a palavra

“Uns lutam com as leis, outro com os bisturis. Eu luto com a palavra. É bom? É ruim? Não interessa, é a minha vocação.”


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