sábado, 19 de outubro de 2024

Eleições é tudo a mesma coisa, ou não?

 Eleições é tudo a mesma coisa, ou não?

Emerson Fulgencio

Acordei às 5h30 com o clarão da luz do banheiro. Domingo tão cedo? Minha esposa dos 18 anos até hoje - quem a conhece sabe de quanto tempo estou falando - se voluntaria para as eleições.  A justificativa são as folgas às quais tem direito, mas percebo que, na verdade, ela gosta disso tudo. Então, a luz me tirou da cama.

Depois de tomar banho, já pronto para levá-la ao colégio onde estava escalada, espero-a no carro. Lembro-me de alguns episódios vividos em épocas em que fui voluntário. "Onde vovotá?" Em todas as eleições, foram várias: umas como secretário, outras como mesário — agora quem me conhece sabe de quanto tempo estou falando. Chegava à seção um senhor que perguntava. Era engraçado e, ao mesmo tempo, chato. Ele olhava e dizia: “Onde vovotá?”. Pegávamos o título de eleitor dele e falávamos que era ali mesmo. Então ele abria aquele sorrisão e dizia: “Eu perguntei onde o vovô tá!” e dava uma gargalhada. Foram vários anos, com eleições para prefeito, presidente e senador.

Mas hoje não sou voluntário. O mais curioso é que estou aqui em uma escola, vim trazer a esposa; talvez seja um voluntariado de cumplicidade. Outras lembranças me ocorreram: as urnas, as cédulas, canetas, anotar, conferir, auditar. Era uma responsabilidade sem igual; daqueles “x” colocados, daqueles números inscritos, sairia a legitimidade das escolhas. O prefeito para o próximo mandato será o fulano de tal, o presidente o cicrano, o vereador o beltrano. Seriam alguns anos de administração de todos os recursos de nossa cidade, de nosso país. A responsabilidade do que entendemos como bem comum estaria nas mãos de um, mas teria passado pelas mãos de vários na hora do sim, naquele dia D.

O cenário é o mesmo: alguns senhorzinhos estão ao portão da escola desde às 7h, ávidos com seus títulos em mãos. Parece que quem não tem mais a obrigação de votar tem mais compromisso do que aquele cujo exercício cidadão faria tanta diferença para sua cidade, para seu país. Vários "santinhos" — para quem não sabe o que é isso, para explicar aos mais jovens, é um post de Facebook ou Instagram impresso em papel — estão jogados na rua, no chão mesmo, em frente aos locais de votação.

Uma movimentação inconfundível de pessoas que chegam para voluntariar: alguns, como minha esposa, com sorriso estampado, falante, com aquela expressão indiscutível de “estou aqui porque quero”; mas também aqueles que chegam sem um bom dia sequer. Então percebo que parece que nada mudou. Ou mudou? Com certeza, o senhorzinho do "vovotá" não vota mais, não “tá” mais por aqui também.