Acordei às 5h30 com o clarão da luz do banheiro. Domingo tão cedo? Minha esposa dos 18 anos até hoje - quem a conhece sabe de quanto tempo estou falando - se voluntaria para as eleições. A justificativa são as folgas às quais tem direito, mas percebo que, na verdade, ela gosta disso tudo. Então, a luz me tirou da cama.
Depois de tomar banho, já pronto para levá-la ao colégio onde estava escalada, espero-a no carro. Lembro-me de alguns episódios vividos em épocas em que fui voluntário. "Onde vovotá?" Em todas as eleições, foram várias: umas como secretário, outras como mesário — agora quem me conhece sabe de quanto tempo estou falando. Chegava à seção um senhor que perguntava. Era engraçado e, ao mesmo tempo, chato. Ele olhava e dizia: “Onde vovotá?”. Pegávamos o título de eleitor dele e falávamos que era ali mesmo. Então ele abria aquele sorrisão e dizia: “Eu perguntei onde o vovô tá!” e dava uma gargalhada. Foram vários anos, com eleições para prefeito, presidente e senador.
Mas hoje não sou voluntário. O mais curioso é que estou aqui em uma escola, vim trazer a esposa; talvez seja um voluntariado de cumplicidade. Outras lembranças me ocorreram: as urnas, as cédulas, canetas, anotar, conferir, auditar. Era uma responsabilidade sem igual; daqueles “x” colocados, daqueles números inscritos, sairia a legitimidade das escolhas. O prefeito para o próximo mandato será o fulano de tal, o presidente o cicrano, o vereador o beltrano. Seriam alguns anos de administração de todos os recursos de nossa cidade, de nosso país. A responsabilidade do que entendemos como bem comum estaria nas mãos de um, mas teria passado pelas mãos de vários na hora do sim, naquele dia D.
O cenário é o mesmo: alguns senhorzinhos estão ao portão da escola desde às 7, ávidos com seus títulos em mãos. Parece que quem não tem mais a obrigação de votar tem mais compromisso do que aquele cujo exercício cidadão faria tanta diferença para sua cidade, para seu país. Vários santinhos — para quem não sabe o que é isso, para explicar aos mais jovens, é um post de Facebook ou Instagram impresso em papel — estão jogados na rua, no chão mesmo, em frente aos locais de votação.
Uma movimentação inconfundível de pessoas que chegam para voluntariar: alguns, como minha esposa, com sorriso estampado, falante, com aquela expressão indiscutível de “estou aqui porque quero”, mas também aqueles que chegam sem um bom dia sequer. Então percebo que parece que nada mudou. Ou mudou? Com certeza, o senhorzinho do "vovotá" não vota mais, não “tá” mais por aqui também.
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